domingo, 18 de dezembro de 2011

Imortalidade




Viver para sempre, sem temor à morte devido à ausencia desta última, ou a imortalidade é algo que todo homem, mulher e criança desejou, seja em que época eles viveram ou hão-de viver. Também é um assunto que está muito, se não intimamente, relacionado com a religião e a teologia, vejam-se os exemplos, em primeiro lugar, do Reconstitucionalismo que defende que, na altura da morte, o individuo (recentemente?) falecido será completamente aniquilado mas que pode (e será) re-criado posteriormente no dia da Ressurreição. Outra teoria, alternativa ao Reconstitucionalismo, é a do Dualismo Cartesiano, que defende que a única maneira de entender (e dar algum sentido) a imortalidade é de ter em conta o dogma de que o individuo é distinto do seu corpo fisico e que o mesmo individuo passa a viver sem o corpo depois da sua morte.
Mas estes são teorias e hipóteses irrelevantes para este ensaio. Os verdadeiros problemas aos quais pretendo responder neste texto não entram no campo da teologia, mas sim no ramo das ciências empíricas. Conseguirão elas responder a alguns problemas que surgem quando pensamos, ou mencionamos, a palavra “imortalidade”?  Mais especificamente, conseguem elas responder às seguintes perguntas:
Porque envelhecemos e morremos?
Porque é desejável a imortalidade, ou simplesmente, pararmos e/ou regredirmos o processo de envelhecimento?
Conseguiremos atingir a imortalidade, ou um meio de prolongarmos indefinidamente o nosso tempo de vida, através da ciência?

Pessoalmente, creio que é possivel que a ciência tenha algumas respostas aos problemas que a vida eterna põe em causa e que, possivelmente, consiga proporcionar-nos a vida eterna(eterna, caso não ocorra alguma fatalidade).

Começemos por dar uma resposta à primeira pergunta. Envelhecemos simplesmente porque é este o ciclo da vida. Em termos técnicos, porque o metabolismo, ou a complexa rede de processos homeostáticos que o nosso sistema usa, de modo a manter a estabilidade com o seu meio, deixa de funcionar tão eficientemente contra certas patologias. Ou seja, não consegue reparar os danos que sofre ao longo do tempo. Um exemplo disso está nas nossas cabeças. O cabelo mantem a sua cor graças à melanina, mas todos os corpos produzem peróxido de hidrogénio naturalmente, uma substancia que bloqueia a melanina. Eventualmente a melanina não consegue ser produzida a um ritmo suficiente para prevenir e reparar o dano inflingido pelo peróxido de hidrogénio. Simples.
A segunda pergunta já é mais complicada e possivelmente a ciencia não é o meio correcto para responder a esta pergunta. Mas de maneira básica, é desejável parar o envelheçimento “porque esta mata”, diz Aubrey de Grey. Passemos ao próximo tópico.
É possivel, segundo o gerontologista Aubrey de Grey, o homem conseguir tratamentos e terapias, ao qual o senhor de Grey deu o nome de rejuvenescimento humano robusto (RHR), que estenderiam o periodo de vida de um individuo por aproximadamente 30 anos, tempo suficiente para que esta terapia fosse melhorada e aplicada a um individuo, que já recebera anteriormente esta terapia, de modo a prolongar o seu tempo de vida por mais algumas dezenas de anos. Graças a esta “rotina” de receber tratamento e esperar por uma posterior consulta poder-se-ia dizer que atingimos a imortalidade, teoricamente. Outro método para atingir a imortalidade, segundo a ciencia e especificamente segundo o cientista Ray Kurzweil, é o de transformar o corpo numa máquina através do implante de nano-robós que irão reparar os orgãos do nosso corpo, eliminar doenças e anomalias no nosso corpo, entre outras funções, de modo a prolongar o nosso tempo de vida quase ilimitadamente. Isto dentro de aproximadamente 25 anos, quando a nanotecnologia estiver mais desenvolvida.

Mas decerto que alguém, ao ler este “ensaio”, poderia pensar o seguinte: Segundo Aubrey de Grey, poderiamos ser imortais, mas continuariamos a envelheçer de qualquer dos modos. Porque não deixar de envelheçer de vez? Porque seria impossível, mesmo com tratamentos que nos proporcionassem mais uma centena de anos para desfrutarmos. Como tudo na natureza, nós somos feitos de reações químicas. Suponhamos que recebemos um tratamento que nos prolonga a vida por mais 50 anos, aos 30 anos, e os nossos corpos continuem a produzir melanina suficiente aos 60 anos para combater o peróxido de hidrogénio, de qualquer dos modos, os cabelos tornar-se-iam um bocado mais claros ao fim de 35 ou 40 anos porque continuaríamos a produzir peroxido de hidrogénio, mas não em quantidades suficientes para tornar todo o cabelo branco em apenas uma década. Outra objecção à teoria da RHR é a de que, mentalmente, continuariamos a envelheçer, o que poderia levar à demência, à falta de memória devido ao excesso de informação que temos dentro do cérebro(imaginemos que mudamos de número de telefone a cada semana e que, naturalmente, somos forçados a memoriza-lo. No final de 5 a 8 semanas não nos lembrariamos do número que tinhamos memorizado na 3ª semana) e a uma percepção alterada do tempo (depois de se viver 500 anos, uma década passa num piscar de olhos, naturalmente). Sim e quanto a isso ainda não se pode dar uma resposta definitiva, simplesmente porque ainda não se revelou urgente responder-se a essas perguntas. Hoje em dia não há grande preocupação com idosos dementes, porque estes estão, em casos normais, prestes a morrer. Moralmente, isto é mosntruoso, mas pelo menos são-lhes atribuidos, na maioria dos casos, condições, enquanto vivos, para viverem uma vida o mais boa e saudável quanto possivel. A informação que guardamos no cérebro e que está imediatamente disponivel e mais fresca é a que necessitamos de usar dia-a-dia. Certamente, o nosso cérebro vai abrandar e continuaremos a esqueçer nomes e datas, mas devido ao nosso longo tempo de vida, essa informação não se mostrará tão imediatamente importante como o nome do conjuge de há 50 anos.




Pode-se tambem perguntar porque motivos a evolução não “escolheu” a imortalidade, visto que esta é tão conveniente, mas claramente é observável que todas as espécies evoluem e envelhecem até eventualmente morrer?
A resposta de Aubrey de Grey a esta pergunta é o envelhecimento é “o produto de uma negligência evolutiva”. Segundo ele não envelheçer requer muito trabalho a nível celular e seria necessário ter genes mais refinados e com ainda mais funções de que as que têm agora.
Logicamente a pergunta anterior pode (e vai) levar a uma proxima interrogação: Será que devemos, Será correcto/ético ir contra a natureza e optar por seguir uma vida (quasi)eterna? Trata-se de uma pergunta controversa à qual o Sr. De Grey não responde, directamente, pelo menos.3  Segundo o meu ponto de vista diria que a imortalidade é uma área éticamente cinzenta. Se tomarmos como exemplo um idoso(mas apenas de idade, visto ter feito tratamentos para se manter jovem) que se tenha tornado senil e que a sua condição afecta a sua qualidade de vida e as de quem o rodeiam, neste caso a imortalidade não é ética. Caso haja um excesso de população, continua a ser não ética. Caso pessoas optem, em números crescentes, recorrer á eutanásia porque se cansaram de viver durante tanto tempo, talvez a longevidade infinita não seja assim tão imoral. Se levarmos em consideração certos individuos que aproveitem o seu tempo útil de vida a salvar vidas, ou a praticar, em geral, o bem(bombeiros, médicos, etc) certamente a imortalidade não é imoral. E porque haveria a ideia do ser humano se tornar imortal algo de imoral?  
We didn't stay on the ground, we didn't stay on the planet, we're not staying within the limitations of our biology, and we're not staying within the limitations of our intelligence. The noblest purpose of human life is the creation, communication, understanding, and appreciation of knowledge in all its forms: from different art forms to different levels of expression in science and technology.”


Em conclusão, não nos podemos esquecer que uma vida eterna não passa disso mesmo, tempo. Uma quantia de tempo mais que necessária para realizarmos objectivos aos quais nos propomos. O máximo que ganhamos com os tratamentos acima mencionados é uma ampulheta maior. O ser humano não mudaria mesmo que lhe fosse dado o tempo necessário para tal. O nosso meio poderia mudar, mas os nossos hábitos, provavelmente não.












Notas

  http://www.youtube.com/watch?v=8iYpxRXlboQ&feature=channel_video_title
             http://www.msnbc.msn.com/id/6959575/ns/technology_and_science-science/t/inventor-sets-his-sights-immortality/
http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/6217676/Immortality-only-20-years-away-says-scientist.html
 http://ratioexmachina.posterous.com/is-immortality-an-ethical-issue-aubrey-de-gre
http://bigthink.com/aubreydegrey#!video_idea_id=16756
http://www.enlightennext.org/magazine/j30/kurzweil.asp?page=4

Introduções

Só um blog de ensaios e etc. O que merecer ser escrito/ publicado, provaelmente virá ca parar. 


PS: Felizes festas 2011.