Viver para
sempre, sem temor à morte devido à ausencia desta última, ou a imortalidade é
algo que todo homem, mulher e criança desejou, seja em que época eles viveram
ou hão-de viver. Também é um assunto que está muito, se não intimamente,
relacionado com a religião e a teologia, vejam-se os exemplos, em primeiro
lugar, do Reconstitucionalismo que defende que, na altura da morte, o individuo
(recentemente?) falecido será completamente aniquilado mas que pode (e será)
re-criado posteriormente no dia da Ressurreição. Outra teoria, alternativa ao
Reconstitucionalismo, é a do Dualismo Cartesiano, que defende que a única
maneira de entender (e dar algum sentido) a imortalidade é de ter em conta o
dogma de que o individuo é distinto do seu corpo fisico e que o mesmo individuo
passa a viver sem o corpo depois da sua morte.
Mas estes são
teorias e hipóteses irrelevantes para este ensaio. Os verdadeiros problemas aos
quais pretendo responder neste texto não entram no campo da teologia, mas sim
no ramo das ciências empíricas. Conseguirão elas responder a alguns problemas
que surgem quando pensamos, ou mencionamos, a palavra “imortalidade”? Mais especificamente, conseguem elas responder
às seguintes perguntas:
Porque envelhecemos e
morremos?
Porque é desejável a
imortalidade, ou simplesmente, pararmos e/ou regredirmos o processo de
envelhecimento?
Conseguiremos atingir a
imortalidade, ou um meio de prolongarmos indefinidamente o nosso tempo de vida,
através da ciência?
Pessoalmente,
creio que é possivel que a ciência tenha algumas respostas aos problemas que a
vida eterna põe em causa e que, possivelmente, consiga proporcionar-nos a vida
eterna(eterna, caso não ocorra alguma fatalidade).
Começemos por
dar uma resposta à primeira pergunta. Envelhecemos simplesmente porque é este o
ciclo da vida. Em termos técnicos, porque o metabolismo, ou a complexa rede de
processos homeostáticos que o nosso sistema usa, de modo a manter a
estabilidade com o seu meio, deixa de funcionar tão eficientemente contra
certas patologias. Ou seja, não consegue reparar os danos que sofre ao longo do
tempo. Um exemplo disso está nas nossas cabeças. O cabelo mantem a sua cor
graças à melanina, mas todos os corpos produzem peróxido de hidrogénio
naturalmente, uma substancia que bloqueia a melanina. Eventualmente a melanina
não consegue ser produzida a um ritmo suficiente para prevenir e reparar o dano
inflingido pelo peróxido de hidrogénio. Simples.
A segunda
pergunta já é mais complicada e possivelmente a ciencia não é o meio correcto
para responder a esta pergunta. Mas de maneira básica, é desejável parar o
envelheçimento “porque esta mata”, diz Aubrey de Grey. Passemos ao próximo
tópico.
É possivel,
segundo o gerontologista Aubrey de Grey,
o homem conseguir tratamentos e terapias, ao qual o senhor de Grey deu o nome
de rejuvenescimento humano robusto (RHR), que estenderiam o periodo de vida de
um individuo por aproximadamente 30 anos, tempo suficiente para que esta
terapia fosse melhorada e aplicada a um individuo, que já recebera
anteriormente esta terapia, de modo a prolongar o seu tempo de vida por mais
algumas dezenas de anos. Graças a esta “rotina” de receber tratamento e esperar
por uma posterior consulta poder-se-ia dizer que atingimos a imortalidade,
teoricamente. Outro método para atingir a imortalidade, segundo a ciencia e
especificamente segundo o cientista Ray
Kurzweil, é o de transformar o corpo numa máquina através do
implante de nano-robós que irão reparar os orgãos do nosso corpo, eliminar
doenças e anomalias no nosso corpo, entre outras funções, de modo a prolongar o
nosso tempo de vida quase ilimitadamente. Isto dentro de aproximadamente 25
anos, quando a nanotecnologia estiver mais desenvolvida.
Mas decerto
que alguém, ao ler este “ensaio”, poderia pensar o seguinte: Segundo Aubrey de
Grey, poderiamos ser imortais, mas continuariamos a envelheçer de qualquer dos
modos. Porque não deixar de envelheçer de vez? Porque seria impossível, mesmo
com tratamentos que nos proporcionassem mais uma centena de anos para desfrutarmos.
Como tudo na natureza, nós somos feitos de reações químicas. Suponhamos que
recebemos um tratamento que nos prolonga a vida por mais 50 anos, aos 30 anos,
e os nossos corpos continuem a produzir melanina suficiente aos 60 anos para
combater o peróxido de hidrogénio, de qualquer dos modos, os cabelos
tornar-se-iam um bocado mais claros ao fim de 35 ou 40 anos porque continuaríamos
a produzir peroxido de hidrogénio, mas não em quantidades suficientes para
tornar todo o cabelo branco em apenas uma década. Outra objecção à teoria da
RHR é a de que, mentalmente, continuariamos a envelheçer, o que poderia levar à
demência, à falta de memória devido ao excesso de informação que temos dentro
do cérebro(imaginemos que mudamos de número de telefone a cada semana e que,
naturalmente, somos forçados a memoriza-lo. No final de 5 a 8 semanas não nos
lembrariamos do número que tinhamos memorizado na 3ª semana) e a uma percepção
alterada do tempo (depois de se viver 500 anos, uma década passa num piscar de
olhos, naturalmente). Sim e quanto a isso ainda não se pode dar uma resposta
definitiva, simplesmente porque ainda não se revelou urgente responder-se a
essas perguntas. Hoje em dia não há grande preocupação com idosos dementes,
porque estes estão, em casos normais, prestes a morrer. Moralmente, isto é
mosntruoso, mas pelo menos são-lhes atribuidos, na maioria dos casos,
condições, enquanto vivos, para viverem uma vida o mais boa e saudável quanto
possivel. A informação que guardamos no cérebro e que está imediatamente
disponivel e mais fresca é a que necessitamos de usar dia-a-dia. Certamente, o
nosso cérebro vai abrandar e continuaremos a esqueçer nomes e datas, mas devido
ao nosso longo tempo de vida, essa informação não se mostrará tão imediatamente
importante como o nome do conjuge de há 50 anos.
Pode-se
tambem perguntar porque motivos a evolução não “escolheu” a imortalidade, visto
que esta é tão conveniente, mas claramente é observável que todas as espécies
evoluem e envelhecem até eventualmente morrer?
A resposta de
Aubrey de Grey a esta pergunta é o envelhecimento é “o produto de uma
negligência evolutiva”. Segundo ele não envelheçer requer muito trabalho a
nível celular e seria necessário ter genes mais refinados e com ainda mais
funções de que as que têm agora.
Logicamente a
pergunta anterior pode (e vai) levar a uma proxima interrogação: Será que
devemos, Será correcto/ético ir contra a natureza e optar por seguir uma vida
(quasi)eterna? Trata-se de uma pergunta controversa à qual o Sr. De Grey não
responde, directamente, pelo menos.3 Segundo o meu ponto de vista diria que a
imortalidade é uma área éticamente cinzenta. Se tomarmos como exemplo um
idoso(mas apenas de idade, visto ter feito tratamentos para se manter jovem)
que se tenha tornado senil e que a sua condição afecta a sua qualidade de vida
e as de quem o rodeiam, neste caso a imortalidade não é ética. Caso haja um excesso
de população, continua a ser não ética. Caso pessoas optem, em números
crescentes, recorrer á eutanásia porque se cansaram de viver durante tanto
tempo, talvez a longevidade infinita não seja assim tão imoral. Se levarmos em
consideração certos individuos que aproveitem o seu tempo útil de vida a salvar
vidas, ou a praticar, em geral, o bem(bombeiros, médicos, etc) certamente a
imortalidade não é imoral. E porque haveria a ideia do ser humano se tornar
imortal algo de imoral?
“We didn't stay on
the ground, we didn't stay on the planet, we're not staying within the
limitations of our biology, and we're not staying within the limitations of our
intelligence. The noblest purpose of human life is the creation, communication,
understanding, and appreciation of knowledge in all its forms: from different
art forms to different levels of expression in science and technology.”
Em conclusão,
não nos podemos esquecer que uma vida eterna não passa disso mesmo, tempo. Uma
quantia de tempo mais que necessária para realizarmos objectivos aos quais nos
propomos. O máximo que ganhamos com os tratamentos acima mencionados é uma ampulheta maior. O ser humano não mudaria mesmo que lhe fosse
dado o tempo necessário para tal. O nosso meio poderia mudar, mas os nossos
hábitos, provavelmente não.
Notas
http://www.youtube.com/watch?v=8iYpxRXlboQ&feature=channel_video_title
http://www.msnbc.msn.com/id/6959575/ns/technology_and_science-science/t/inventor-sets-his-sights-immortality/
http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/6217676/Immortality-only-20-years-away-says-scientist.html
http://ratioexmachina.posterous.com/is-immortality-an-ethical-issue-aubrey-de-gre
http://bigthink.com/aubreydegrey#!video_idea_id=16756
http://www.enlightennext.org/magazine/j30/kurzweil.asp?page=4